quinta-feira, maio 25, 2006

O Perfume.

Estava chovendo fraco, quase um spray e a madrugada com sua solidão , seguia fria . Ele caminhava e podia ouvir seus passos na calcada, num ritmo rápido. Só pensava em chegar em casa e tomar um banho. Um estampido, o susto, uma pressão na nuca. Bateu o rosto no chão. Viu-se morto. Cheiro de pólvora e chuva.

O homicida disparou certeiro a nuca do vagabundo. O corpo inerte despencou no chão. Ele se aproxima do corpo e confirma o fato. Nunca havia matado ninguém e a curiosidade o faz aproximar do infeliz. O sangue fluía ralo pelo pescoço e a água da chuva diluía a cor. Cheiro de sangue e vingança.

O sol avisa a madrugada que o dia começa.O soldado a espera do rabecão. O corpo não lhe traz sentimentos. O corpo é um formulário de sua rotina. Curiosos cobrem a face da vitima, com estranha vergonha da vida que se foi. Uma vela é acesa. Ao redor a vida segue sua rotina . Cheiro de café e pão quente.

A família resignada , já previa o crime. Com desdenho, o irmão se apresenta como familiar ao policial . Assina um relatório e se aproxima do morto que debruçado sem jeito, parece estar desconfortável. O toque assusta pela frieza da pele. Um beijo no rosto do irmão , sela a permanência da vida. Cheiro de tabaco e roupa suja.

Ele se aproxima e beija delicadamente o rosto da cobiça. Mulher de rosto limpo e macio. Ele fala e ela escuta. Ele pede e ela cede. O samba já canta baixo e a festa vai terminando.
Ele pede uma aguardente e bebe rápido. Seguem pro barraco. Ousado , agora ele beija o pescoço da morena que recebe o beijo com prazer. Cheiro de álcool e traição.

A morena de corpo suado e despido, olha o teto com satisfação. Fez amor e amou. Deitada no peito de seu amante, não pensa em nada. A nuvem de fumaça denuncia o cigarro barato e forte. A porta é aberta num chute, e o marido traído ainda consegue ver, as nádegas do homem pulando a janela. Cheiro de perfume barato e morte.

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