sábado, maio 10, 2008

Terminal.



Sou o investigador da Policia Civil, meu nome é Jose Pedro Bontempo Filho.
Depois de tanto tempo trabalhando nessa merda, aprendi que aqui todos corrompem ou são corrompidos. Eu faço parte dos dois grupos.
Delegacia é lugar de crime, de morte, roubo, tragédia, ninguém chega ali contente, e quando chega, pode ter certeza que aquela é a cara da vingança. Trazem os problemas, tua função é resolver. Alem de tudo isso, de toda essa profunda tristeza, você ainda tem que cuidar de si mesmo, tentar esquecer o que viu ou fez durante a escala e deixar pelo menos metade do sangue que traz no estomago dentro de um copo de conhaque ou aguardente. A outra metade não tem jeito, fica lá remoendo.
Quando tinha uns 6 meses "de casa", matei o primeiro. Na hora, o delegado ali me olhando de braços cruzados, zombando e duvidando calado. "Queima esse safado, Bontempo!" gritava um dos investigadores na minha orelha. Era um rapazinho de pouco mais de 20 anos, ajoelhado nu e acusado de matar um PM. Disparei quando ainda resolvia se devia fazer aquilo ou não, mas disparei no peito do coitado. "Porra Bontempo, na cabeça!" disse o delegado sacando a pistola e terminando a execução com um buraco na testa do rapaz.
Eu enjoei na hora, apoiei uma mão no capo da viatura e vomitei enquanto os homens acendiam cigarros e sorriam como se tivessem de acabado de fazer sexo. Quando fui limpar a boca, me vi ainda segurando a arma e voltei a vomitar.
"Vamos embora, Bontempo, isso é normal." falou um dos homens.
Quando disse uns seis meses, tento amenizar esse maldito dia, mas sei exatamente quando foi, dia, mês e ano. Matar uma pessoa é entregar consciência pro diabo.