quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Consultório.




- Patologia??!? - Dr. Euclides aperta o botão 5 de seu PABX com violência típica após ler a bula da caixa de comprimidos - Dona Marta? Alou? Que merda de remédio é esse?
- Antroplexina que o senhor pediu. - Responde a voz abafada da secretaria pelo alto falante do antigo aparelho de telefone.
- Dona Marta, dona Marta...essa porra é de remédio de bicho, de veterinário, de tratar pato, galinha ou peru, sei lá... ô gente burra do caralho! Tá aqui ó: PA-TO- logia, dos PATOS e aves.
- Doutor, o paciente das três, já está aqui. - Avisa Dona Marta ignorando os comentários.
- Já?!? Que horas são?
- Dez pras três.
- Acho graça nessa raça. Eles ACHAM que medico vai atender no horário... Manda esse idiota entrar daqui à uma hora mais ou menos que vou pesquisar uns bagulhos cientificos no Orkut.
- Sim Doutor.

Uma hora depois, um homem de trinta e poucos anos entra na sala do medico.
- Doutor...
- Que houve...- Checa o prontuário do paciente -... Carlos?
- (encabulado) É que surgiram alguns abscessos na base do pênis.
- Blerggg! Que nojo! Tem um caroço no pau, é??
- Sim, dois, um de cada lado.
- E...tipo assim, já tentou tetrex ? Voce não conhece nenhum farmacêutico e tal pra dar uma olhadinha nisso? Já procurou no Google pra ver se tem algo parecido?
- Não tomo remédios sem consulta medica, doutor.
- Isso que é o inferno , esses viados inventam essas modas de ter de ir no medico e eu que me fodo aqui...faz o seguinte, vai ali no banheirinho e lava essa porra toda com álcool. Sem miséria de álcool, faz favor!

Cinco minutos depois.
- Pronto doutor, lavei.
- AH, meu chapa, em cinco minutos não se limpa nem nariz quanto mais piroca! Pode lavar essa merda direito! Ate arder!
- Ok!

Dez minutos depois.
- Porra, anda logo com isso que tenho outros pacientes! Dez minutos pra lavar uma rola é um absurdo! E manera no álcool aí que isso me custa dinheiro!
- Pronto, terminei!
- Não era sem tempo...
- O senhor quer ver agora?
- Ver o que?!
- Meu pênis.
- Tá louco, seu depravado??!? - Euclides levanta-se em alerta - Olha, se você tirar as calças na minha frente , eu taco acido nisso! Fui claro!??
- Mas...e os abscessos?
- Amigo, usam-se altas tecnologias na medicina atual - Diz Doutor Euclides anotando em seu receituário e destacando uma folha - Aqui meu email, tire umas fotos do pinto podre, arg(!) , com caroços e me envie. Analiso isso no computador.
- (Apreensivo) Mas doutor, isso é muito intimo...não é meio inseguro isso no email??
- Não questione, faça o que eu mando, Carlos, o medico aqui sou eu.

Cinco dias depois.
Orkut
Comunidade Do Carlos, o homem do caralho com asas. Confira aqui as fotos da aberração.

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

O Jê de pedra não possui bunda.


E abaixa os braços de noitinha quando apagam a luz. Eu não vi, mas afirmaram que é pra descansar. Faz sentido.

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Norton.

Meu chefe sempre monitorou as cagadas aqui no escritório. Tentou implantar horários e prazos mas a mãe natureza não respeita e nem admite imposições. Numa ultima e surpreendente ação terrorista, o chefe trocou o papel higiênico. Foi pessoalmente ao mercado, analisou texturas, maciez e escolheu, literalmente a dedo, o papel menos ineficaz.
Não se tratava do papel mais barato, era de preço mediano e com uma embalagem bastante sofisticada. Só não funcionava.
E fui eu o primeiro a provar a aquisição.
Caguei meus habituais 900 gramas de merda, e preparei- me para a limpeza local. O rolo ali ao lado, novo, cheio e devidamente instalado. Puxei uns 50 centímetros. Ao corta-lo, já previ problemas.
- Caralho, isso é cartolina?? Só pode ser...rask...pelo amor de Deus...RASK... fiz força pra rasgar um papel higiênico?!?
Usei as duas mãos e assim consegui um bom pedaço. Cada individuo tem uma maneira peculiar de limpar a bunda. Uns da esquerda pra direita, outros inversamente, têm os que limpam de cima pra baixo e por ai vai. Eu dobro o papel , dou uma geral superficial que finda numa blitz de operação padrão dos fiscais da receita federal. Na primeira passada notei algo errado e tive certeza que o movimento só fez mudar a sujeira do lugar.
- Mas que porra é essa??! Esse papel é plastificado??!?
Era. Alem de ser duro como um papel cartão , o maldito brilhava feito uma chapa de pulmão . Nunca passei um cartão de visita desses que tem fotos coloridas no rabo, mas a sensação deve ser a mesma.
Amassei , rezei, esfreguei no chão, molhei e nada, nada amaciava ou destruía aquela desgraça de papel a prova de merda. Espalhei bosta na bunda toda. O cu, que nunca passará por situação tão agressiva, já demonstrava fortes sinais de stress na forma de dor.
E todo mundo, talvez numa situação emergencial ou parecida, sabe o que é sair do banheiro com a nítida impressão de estar cagado.
Voltei-me ao trabalho sob o olhar atento do chefe. Fiz cara de azulejo e continuei a trabalho como se tudo estivesse na mais perfeita normalidade. Não estava. Demoram-se apenas trinta minutos para eu voltar aflito com a situação ao banheiro. Meu chefe:
- De novo?
- É...um mocotó que comi ontem...
No banheiro, uma pilha de papel lotava a cesta, evidenciava outras vitimas . Arreei as calças e a cueca branca parecia uma cabeceira de pista de aeroporto. Freadas fortes , longas e largas cintilavam a metros de distancia.
- Pultaquipariiiil!!
Era fato consumado. Não seria uma pia com esses sabonetes líquidos e altamente diluídos pelo nobre chefe, que faria alguma limpeza na cueca, como eu mesmo conferi. Tentei amenizar a situação da bunda na pia, e tentar limpar a bunda na pia de um minúsculo banheiro só lhe molha a roupa e espalha água contaminada por todo corpo. Eu era a merda em forma de gente.
Saio do banheiro vencido, humilhado, vestindo uma cueca molhada, borrada e , suponho, cheirando a rego dos pés a cabeça, quando a vadia da estagiaria gostosona, me aborda com olhar insinuante depois de anteriores investidas sem resultado que lhe dei:
- Vamos ao almoxarifado comigo? É que quero te mostrar minha tatuagem nova...
- Errrrrrr.....

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

REDENTOR



A boa velhinha jazia há mais de um ano sobre a cama. Não se entregaria de forma alguma à morte, antes aprenderia a andar de bicicleta, dizia ela. Pobre vovó. Não seria hora de lhe contar sobre o câncer? Acabar com as esperanças na vida e ter um fim mais humano? Talvez não, pois ela se adaptava dia após dia à sua realidade e com ela viveria até o fim. Habitua-se a viver.

Mamãe tomava-lhe conta. Batalha incansável para proporcionar algum conforto à pobre velha moribunda. Trocava-lhe a fralda, dava banho e alimentava de colherinha na boca. De quando em vez eu ficava de plantão à noite, para aliviar a carga de mamãe que estava no limite máximo da exaustão. Dormia no quarto ao lado e de quinze em quinze minutos, quando não menos, ao estalar da varinha no cilindro de oxigênio corria lá. Vira de um lado, vira de outro, ergue o travesseiro, tira a coberta, liga o ventilador, acende a luz, aumenta o oxigênio.

Às vezes, durante o dia, cabia-me também a tarefa de “reensina-lá a andar”. “- Muito tempo deitada, meu filho” suspendia-a a ponto de deixar seus pés tocarem de leve o chão e guiava-a pelo quarto. Poucos passos. Ela, crente que fazia melhoras ficou triste quando seus ossos começaram a partir-se à toa. Coisa feia de se ver.

Em um de meus plantões, percebi que havia dormido demais. Não haveria escutado a varinha zunir no cilindro? Logo eu que tenho sono leve! Esperei mais um pouco deitado. Quinze ou vinte minutos e não fui solicitado. Sabia que algo não ia bem, mas a ilusão de preguiçoso, louca para me por dormindo de novo me dizia que o remédio amainou a dor e que ela estava dormindo bem. Não, melhor levantar e verificar.

Encontro-a com os olhinhos revirantes e respiração presa. Um ronco medonho na tentativa de capturar algum ar. Pobre velha. Levo a mão à válvula do cilindro e lentamente corto todo o fluxo de oxigênio. Seguro suas mãos e vejo seu sofrimento diminuindo. Uma arfada mais espaçada da outra. Após um longo tempo não sinto mais seu pulso. Espero algum tempo ainda antes de dar o alarme para que seu sono não tenha mais volta. Rezo e lembro com carinho dela que me criou por alguns anos. Será que ela agora vê e sabe oque eu sinto? Perdoará-me?

Tomo o cuidado de ligar o oxigênio novamente e dou o alarme. Num instante todos estão no quarto. Papai que estava ao telefone tomando as providências volta ao quarto. A exclamação de praxe. “-Descansou, coitada. Olhem a expressão de alívio em seu rosto. Está livre”.

Sim, está livre. Eu também. Aquele leve sorriso em seu rosto sereno é o sinal. Com certeza me perdoou.

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Sobre o final.

Me sinto melhor, mais tranqüilo. Não tenho pressa, nem tenho tempo. Minhas mãos são lentas, porem, já mais rápidas que minha mente. E de cada um deles, um restinho de muito pouco que sobrou. Agora você só me olha. Antes, me ouvia.