quarta-feira, dezembro 20, 2006

Foi mais ou menos assim.

Num dia de pouco calor na Bahia (não que esteja frio, mas é só cair um tiquinho de temperatura, que baiano já acha frio) e se planeja uma feijoada. De noitinha, separa-se as carnes salgadas e o escaldo vai a seguir. Tenho cebola, folhas de louro, alho, paio, lingüiça, feijão e fundamental, uma negra forte e a muito na família para fazer sua mágica. O fogo é no chão e o panelão é velho. E pela madrugada adentro, vai se cuidando da iguaria. A negra não dorme direito e confere de tempo em tempo, feito mãe com cria nova, acertando a mistura e passando a colcha devagar na panela, só por capricho. Lá pelo meio do dia seguinte, já com couve, pimenta e farofa na mesa, a fome que já foi devidamente ampliada pelos aperitivos e caipirinhas, atinge seu ápice, na certeza de ser matada da melhor maneira que se pode. O almoço dura umas boas três horas e um licor doce o encerra.
O ultimo se levantar, apóia os braços na mesa e sente o peso da digestão. Depois disso tudo, vem a preguiça, um zonzo de satisfação, quase um pós-gozo.

Dorival Caymmi é o maior artista do mundo na arte da vadiagem. Você olha pra cara dele e quase boceja. Aquele olhão caído, sem rumo, cheio de sono, é a preguiça em forma de gente. Se não me falha a memória, foi num dialogo dele com Chico Buarque que saiu a perola. Eles divagavam sobre o que tinham acabado de comer, devidamente instados em confortáveis redes quando Dorival disse que faltava um gato na feijoada. E explicou para que não houvesse duvida:
- Um gato no colo, pra gente ficar passando a mão aqui na rede.

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