segunda-feira, janeiro 22, 2007

Visita à Psicologa

Por recomendação (ordem) da diretoria da empresa, fui conversar com a psicóloga, aquela besta que nas horas vagas faz a contratação dos dementes e das feiosas que aqui trabalham. Parece até decreto: Só se contrata mulher feia. Até a psicóloga é feia. Será que uma loira peituda atrapalharia o ambiente de trabalho?

Chega a hora marcada (marcar hora dentro da própria empresa? É possível que ela queira me cobrar à consulta) fecho minha sala e vou. Confesso que esse tipo de conversa me deixa meio trêmulo, afinal, se me mandaram falar com ela é que alguma coisa está errada. Pelo menos para eles. Pego um café e vou ao fumódromo queimar um Marlborinho para aliviar e pensar qual minha mancada, me preparar. Isso me dá apenas insuficientes cinco minutos.

Não tem jeito. Vou. A sala dela é mais feia que a minha, reparo ao entrar. São mais de seis anos que estive ali, quando de minha contratação. Ambiente bem decorado, é verdade, mas minúsculo e isento de janelas. Isso me causa um mal estar. A feiosa me recebe com um sorriso cordial, mas reparo que de sua mesa, por cima dos óculos ela me mede de cima a baixo, até meu caminhar ela analisa.

Começa conversando amenidades, em vão tento ver o terreno onde caminho. Pergunta de minha vida fora da empresa. Quer saber como está meu relacionamento com a bebida.

- Não bebo. Respondo tentando ser convincente.

- Olha, o que você responder aqui, ficará entre nós. Há um código de ética profissional que me impede de contar qualquer coisa sobre sua vida a quem quer que seja. Por isso, pediria que você fosse sincero nas suas respostas.

Caralho. A mulher é boa no que faz. Não há como mentir ali e com certeza perguntas piores virão. E essa história de não contar nada pro chefe. Humpf... Um cacete. Ele me manda lá, ele paga o salário dela e ela, pelo que contam, tem um caso com ele. Preciso agir com cautela, penso eu. Ou chamar um advogado

- Ta, ta certo. Hoje é segunda feira, 10 horas da manhã, bebi algumas cervejas a mais e não deu tempo ainda de curar a ressaca ainda.

- Bebe apenas cerveja?

- Sim.

Diante da afirmativa vi que ela ficou pensativa. Mesmo não sendo absolutamente verdade, pois tomo um vinho em ocasiões especiais, oque nem conta porque na minha vida é rareado essas ocasiões.

- E drogas? Medicamentos controlados? Psicotrópicos?

- Doutora, não tomo nada disso não. Só bebo cerveja nos finais de semana e dificilmente passo da conta. Nunca levei uma advertência aqui na empresa, nunca me atrasei ou discuti alguém. Meus subordinados me amam e não estou entendendo o motivo dessa conversa.

- Seus colegas e até o chefe alegam que você, às vezes, parece transtornado. Risadas estrondosas e xingamentos são ouvidos da sua sala. E às vezes até conversando sozinho você está.

- Às vezes preciso aliviar a tensão, oras. Preciso repassar planos em voz alta para memorizar. Nada demais.

- E porque a menção de rifles, tiros, sangue e linguagem obscena em uma reunião? Há explicação?

Nessa hora, lembro do Tatarana. Estou empolgado de mais com esse personagem, quase deixando que ele tome conta de mim. Ela parece que adivinha.

- Qual sua ligação com o Tatarana?

- Porra, estão monitorando minha internet agora?

Agora eu realmente estou trêmulo. Com a liberdade criminosa que a internet dá ®, deixei extrapolar todo um lado psicótico que existe em mim. Uma demência alimentando e alimentada por milhares de leitores. E o pior. Usei o computador da empresa para isso, me deixei pegar.

- Nenhuma – Respondo a seco. Ela percebe a mentira, mas não insiste na pergunta. Manda logo outra.

- Qual o significado de worm?

- É um trocadilho besta. Meu apelido era “vermelho”, alguém abreviou para Verme e eu traduzi. Faltou o elho do vermelho, logo, wormelho.

- Queria lhe pedir novamente para não mentir. O diretor anda preocupado com você. Seus resultados falam por si e ele tem intenção de lhe ter por longos anos ainda aqui na empresa.

- Ta, worm é um bichinho que vive na podridão, aproveitando-se dos restos ajudando na decomposição da matéria.

- Isso é uma bactéria.

- Ta. Um verme parasita, vivendo em organismos hospedeiros e procriando-se em ritmo alucinante, consumindo tudo ao redor sem dar tempo para o organismo se recuperar. Explorando até que este venha a sucumbir, oque então, por conseqüência lhe causará a morte junto do organismo parasitado. O mais correto seria "vírus", mas o verme ainda tem a chance de coexistir na boa. Inclusive, eu e você somos vermes.

- Não entendi a analogia.

- Claro, Freud não explica.

- Ta, que seja. Nosso horário hoje deu, mas preciso lhe remarcar mais algumas consultas. Pode ser toda segunda feira a esta hora?

- Não. Segunda feira é dia de curtir ressaca. Marque para as terças.

- Ok. Vou marcar mais cinco sessões.

- Cinco sessões? Escuta: Escrevo o que escrevo por diversão, gosto de escrever. Não sou psicopata nem nunca matei ninguém. Nem pretendo.

- Só por precaução deixarei agendado.

- Que seja.

Vou saído e pensando. Agora que me descobriram, terei que matar essa idiota e meu diretor. Como fazer para parecer acidente? Ah, tem o raio do japonês da Informática. Com certeza foi ele quem me grampeou a net. Esse tem que sofrer um pouco mais.

- Ah, só mais uma coisa – Volta a chamar ela antes que eu feche a porta – Você consegue um autógrafo do Velho para mim?

- Desculpe, não o conheço.

- Ah ta. Era para minha filha. Ela o adora. Até terça que vem então.

- Tchau. “Puta miserável” - completo em pensamento.

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