Tempo que não tenho.
Tenho dormido mal. Não sei se é por causa do strees ou de outro fator emocional. Eram umas quatro horas da madrugada e eu fumava um cigarro na cozinha, quando alguém bateu na porta de serviço. Fiquei surpreso pelo horário mas abri a porta sem pensar muito. A Morte veio me buscar:
- Era pra você estar dormindo, facilitava meu trabalho. Agora vai ser a lenga lenga de sempre... - Disse aquele ser estranho. Sem cerimônias , a Morte abre a geladeira, dá uma olhada sem compromisso e continua a falar:
- Leite desnatado. Margarina com fibras. Frutas e legumes. Peito de frango, mas que merda de comida é essa?
- É comida saudável. Dietas de minha mulher . Mas não estou entendendo a sua visita. É o cigarro?? - A Morte fecha a geladeira e levanta os ombros:
- Não tem que entender nada. Só cumpro ordens. Vamos?
- Pra onde?
- Pro inferno. E não se demore que o trem que vai pra lá, parte as seis da manhã.
- Caralho(!) assim na lata?!?
- Você sabe o que fez durante sua vida. Ou pensou que tudo passaria em vão?? O "homem" lá de cima não vacila!
- Meu Deus! O que é isso? O que fiz pra ir pro inferno? Matei? Não mato nem barata!
- Quer uma lista dos erros?
Comecei a pensar no que fiz durante a vida. Sim, eu tinha cometido erros, mas todos cometem. O remorso foi me invadindo a alma. O medo também estava lá. Precisava ao menos me desculpar de algumas pessoas. Olhei a Morte lustrando uma maçã em seu manto negro e morde-la em seguida. Era bizarro, mas real. Tentei negociar minha rendição:
- Morte, posso me despedir de minha mulher?
- É nobre. Você vai contar de seus adultérios. Sei disso. Vá lá , você tem 5 minutos.
Entrei no quarto escuro e acendi a luz do abajur. Minha mulher acordou confusa:
- O que foi Marcos? Aconteceu algo? Que horas são?
- Calma Claudia. Vim me despedir. A Morte veio me buscar.- Minha mulher me olha atônita e percebe que alguém parou na porta do quarto. Era a dita cuja que inclina a cabeça num comprimento mudo. Eu continuo:
- Quero dizer que te amo muito, muito mesmo, mas cometi alguns erros. Eu te trai. Peguei sua amiga Suzana, sua prima Márcia - eu olho pra Morte e ela me cobra mais uma acusação. Finalmente falo da recente traição - e a mulher do vizinho do 801
.- Opa , perai! - Me interrompe a Morte. - Não foi a mulher do 802 que você comeu? - O estranho personagem saca um caderno do bolso e confere.
- Está no relatório e "eles" não erram sobre isso. - Minha mulher permanece muda e eu digo:
- Claro que comi a mulher do 802. Ela é minha mulher! Aqui é o apartamento 802!
- 802??!? Puta quel paril! Teu nome não é Armando? - Diz a Morte embaraçada. Eu já tenho um receio:
- Não. Meu nome é Marcos e aqui é o apartamento 802. Armando é o vizinho do 801. - Falo olhando pra minha mulher. A Morte está envergonhada:
- Vamos esquecer o que aconteceu aqui. O corredor do prédio estava escuro a acabei batendo na porta errada. Também, no escuro é foda! Mandem o zelador arrumar a minutaria! Bem , já vou indo. Ate qualquer hora! - Disse saindo do quarto e seguindo pra cozinha. Senta-se na mesa e olha o relógio de pulso. Espera alguns minutos e volta ao quarto. Me vê disparando 3 tiros no peito de Claudia e sair decidido do apartamento com arma em punho. A Morte senta-se na cama, ao lado de minha mulher e diz:
- Lamento, Claudia, mas foi a única forma que encontrei para leva-la. Essa sua vida saudável, lhe levaria ate os 100 anos. - Mais quatro tiros são ouvidos no edifício. A Morte levanta o dedo como se chamando atenção - Pelos disparos, Armando também ja deve estar pronto. Vamos, que o trem sai as seis. by Velho.
Na noite seguinte, eu tive uma perfeita noite de sono.E também garanti uma futura viajem de trem. Sei que parte as seis da manhã. Só não sei quando será o dia.
quarta-feira, agosto 30, 2006
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário