sexta-feira, janeiro 26, 2007
Meu primeiro dia de Voluntáriado.
Meu primeiro dia de voluntariado.
- Os olhinhos das crianças me causaram uma estranha satisfação. É bacana saber de que algum modo essas palavras ficarão guardadas em suas mentes e um pontinho de diferença lhes fará em suas vidas, não sei quando e como, mas fará. Se eu conseguir induzir os pequeninos ao hábito da leitura, suas vidas serão diferente. Disso tenho certeza. Não posso deixar de ajuda-las. Quero ter essa honra.
A diretora me olha resignada. Aquela cara bondosa, de grandes bochechas gordas e rosadas, os olhinhos pequenos que com certeza escondem uma boa alma. Diz bem devagar, quase soando falsidade.
- Olha senhor Worm. Sua intenção é louvável. Precisamos de mais gente como o senhor. O único problema é que seus contos e leituras são, são – procurava a palavra com mãos impacientes e cenho franzido – Digamos, inapropriadas para a idade deles.
- Ah. Entendo. É verdade, o portuguesinho deles ainda é escasso.
- Isso...
- Tudo bem, eu tenho uma versão de bolso de Édipo, que de tão chula chega a ser infantil. Vou ler para eles no próximo sábado.
- Aquele Édipo Sofocliano???
- Conhece outro?
- Nem pensar... Aquele que come a própria mãe? Nem ferrando. – Sua feição já não era nada amigável. Seus olhos faiscavam e ela soltava perdigotos enquanto falava – Não, nem pensar. Definitivamente não.
- Desculpe. Não sabia que a senhora não gostava – Digo, passando um lenço no rosto para limpar o excesso de saliva que em mim voara.
- Suma-se daqui e não volte mais. Primeiro vem com esses livros estapafúrdios recheados de sangue e morte, agora quer por incesto na cabeça das crianças?
Percebendo que a situação é delicada e sabendo que com pessoas ignorantes é preciso saber conversar, resolvo implorar. Com muito jeitinho e insistência consegui dobrar-lhe a resistência. Prometi que seria lido um autor nacional, consagrado, de fácil assimilação, contemporâneo e sem idéias estapafúrdias.
Não vejo ninguém melhor que Nelson Rodrigues com o “A Vida Como Ela É”.
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