R.O.T.A.
A esposa de Walter , Silvia, passava uns dias na casa de sua mãe, em Paraná. Nas férias, eles sempre iam visitá-la, mas devido ao retorno antecipado do trabalho de Walter, ele não pôde ir nesse ano. Era domingo cedo, umas sete da manhã, e ele estava sozinho em casa. Havia comprado o jornal e, sentado à mesa da cozinha , preparava o primeiro gole da xícara de café. Ouve a porta da cozinha abrir-se e fica chocado quando vê seu pastor alemão, de pé, fechar a porta e sentar-se junto a ele na mesa. Seu nome era Tôbi. O homem ficou boquiaberto ao ver a cena. Quase deixa a xícara cair a seguir. O cachorro evita olhar nos olhos do dono e observa as próprias patas sobre a mesa:
- Walter, precisamos conversar. Um assunto delicado...
- (Estarrecido) Vo-vo-vo-voce fala??!?
- Claro que falo! Esperava o que de mim?? Não é você que conversa comigo, pede favores e às vezes ate me manda atacar as pessoas??
- (Confuso) Devo estar louco!! - O cão põe a pata sobre a mão de Walter e tenta o acalmar:
- Sei que deve ser difícil de entender, mas todos cães falam. É que não gostamos de falar com humanos, é um tabu, mas em determinadas situações , somos obrigados.
- Entendo...
- Mas é um assunto muito delicado, Walter, quero toda sua compreensão nisso.
- Tudo bem, pode falar.
- Bem, - o pastor sente-se envergonhado - é sobre a Silvia. Nos estamos tendo um caso.
- Como?!?!?
- É isso mesmo que você entendeu: Eu e a Silvia somos amantes!
Walter, agora calmamente, coloca a xícara de café sobre a mesa, sente-se meio tonto, mas tem curiosidade. Ajeita-se na cadeira e pergunta com frieza:
- Certo, vocês são amantes. Como aconteceu isso? - Tôbi assume uma postura adulta apesar de seus 2 anos de idade. Aponta para o maço de cigarros sobre a mesa e pergunta:
- Posso??
- Fique a vontade. - O cachorro pega o cigarro e Walter saca o isqueiro do bolso da camisa. Acende o cigarro de seu melhor amigo, que dá uma tragada forte e puxa o cinzeiro para si . Walter está impressionado. Tôbi reinicia a conversa:
- Isso começou com algumas cheiradas na ...perdoe-me, na bunda de Silvia. A principio era só uma brincadeira, depois foi tomando rumos inesperados. Ela começou a andar sem calcinha e ...
- Walter o interrompe:
- Sem detalhes, já sei onde isso acaba. - o marido traído sente uma dor no peito, uma faca invisível o dilacerava. Ele não imaginava que os sentimentos pudessem ser sentidos na carne, mas a dor o mostrava o contrario. Sem a mulher por perto, só lhe restava o cão traidor para descarregar o ódio e sofrimento. Ele olha o cachorro com desprezo e diz:
- Vocês me enojam! Trouxe você pequeno para casa, cuidei de você, você era como um filho. Isso é imperdoável! Você, a Silvia, (ele se contem para não chorar) eu lhe dei o nome...
- Eu sei Walter, eu sei, você me batizou de Thôbias Aguiar, mas Silvia me apelidou de Tôbi. Sei que foi errado, mas aconteceu! Não pude evitar.
Walter sente seu sangue ferver e sabe que vai perder o controle a qualquer momento. Levanta-se da mesa e saca seu revolver. Aponta a arma contra o cão e sente as lagrimas incontinentes molhando seu rosto:
- Isso vai doer mais em mim , do em você, mas não posso permitir que continue...
Cinco tiros são disparados contra Tôbi , que tenta lhe desvencilhar em vão. Walter aperta mais uma vez o gatilho e o tambor esta vazio. Ele abaixa a arma e tenta ver o resultado de seus tiros. A fumaça e o cheiro da pólvora enchem a cozinha. Tôbi esta na porta da cozinha e diz antes de sair :
- Walter eu sou um cão policial e vim preparado pra tudo. Estou usando um colete a prova de balas. - E correu pelo quintal. Walter ainda o viu pulando o muro. Ele nunca mais veria Tôbi, nem Silvia, sua esposa.Alguns meses depois disso, Walter comprou uma Poodle e a batizou de Suzi. Quando a cadelinha completou 15 meses, Walter pediu sua pata em casamento. O casamento ocorreu a seguir. Eles formam um belo casal e vivem a dois anos, numa chácara afastada da cidade. Estão felizes e não pretendem ter filhos. Walter só reclama da falta de assunto entre ambos:
- Suzi, o que você achou do Luxa ir pro Real Madrid ??
- AU, AU, AU!
quinta-feira, abril 13, 2006
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