O cônsul do Brasil veio pessoalmente me buscar no hotel, honraria que era oferecida a poucos:
- Confiamos em você. - disse antes de sairmos.
A bordo da Mercedes Benz, seguimos pelas largas avenidas de Moscou. Quatro motociclistas e mais dois automóveis faziam nossa escolta ate o centro de convenções. Lá, diante de milhares de pessoas , eu colocaria meu titulo mundial em jogo, na chamada Partida do Século, como seus organizadores a titularam . E pontualmente às 20 horas, apresentei-me aos anfitriões:
- Senhores, podemos começar.
O desafiante era Klaus Tupperware, um famoso jogador russo que era chamado pela mídia como "O hermético" numa alusão a sua frieza e isolamento externo. Vestido num elegante terno cinza, o russo aperta minha mão com típica arrogância:
- Será uma belíssima disputa. Ao vencedor, o mundo!
O cumprimentei inclinando a cabeça e sentei-me junto à mesa de mármore branco. O juiz determina as regras:
- Não podem ser usadas luvas. A saída será sorteada. Em seguida acontecem 3 jogos. O vencedor de duas , leva o titulo.
Após o sorteio, Tupperware assegura a vitória e garante a saída. O nervosismo toma conta de minha mente, mas eu não podia me deixar levar pelo sentimento.
O primeiro jogo é iniciado. Eu olho fixamente nos olhos de meu desafiante e aguardo seu comando. Posicionado com ambos braços para trás, Klaus dispara sua jogada.
Sem opções, lembrei-me da famosa jogada dada pelo mestre americano Affonso Smith e ataquei . Previsível, Tupperware agiu como o planejado, exibindo a jogada ensaiada. Seu rosto endurece com a primeira derrota. Ele soca a alva mesa e esbraveja:
- Maldito seja!
Uma vitória minha no segundo jogo, manteria o titulo em minhas mãos, adiando as intenções de Tupperware por mais um ano. Ciente disso, controlo a ansiedade e abro novo jogo. Despreparado, sou derrotado por minha inocência. Klaus é um adepto dos antigos mestres russos e não nega suas origens.
- Como fui tolo...- murmurei. O sorriso na face do adversário me faz desabar.
A partida final será realizada. A platéia esta muda pela espectativa. Eu não tenho mais a segurança e nem a forma física de alguns anos atrás. A mais de uma década que não realizo três partidas consecutivas. Meu desafiante tem nos olhos, a jovem ganância típica de sua idade e faz a jogada derradeira com violência.
Respiro fundo e tento por a cabeça no lugar. Milhares de possibilidades me vem a mente. O suor em minha testa denuncia minha franqueza, mas a ultima palavra é minha e respondo alto, ocultando os dois dedos em riste:
- IMPAR! Um dois três e JÁ!
Klaus Tupperware exibe triunfante seus quatro dedos sobre a mesa. Ele é o novo campeão mundial de Par ou Impar, alem de ser líder em condicionamento de alimentos.
Ao vencedor, o mundo. Ao perdedor, um blog.
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